terça-feira, julho 09, 2013

A minha versão do amor

Existem dois tipos de amor;
O amor construído.
E o amor achado, que não pode ser revertido.

O amor construído é aquele que chega devagar.
Se instala em um amigo.
Divide o chocolate e as angústias.
Te segura no sinal vermelho.
E vai crescendo...
E já faz tanto tempo...
Como aquele quadro que a gente pendurou na parede e não dá mais para tirar, porque a cor por detrás dele  já não é a mesma.
Como aquele adesivo que a gente colou e se descolar estraga.
É um amor que fica ali... e vai existindo... e quase não dói.
E provavelmente vai segurar a sua mão, daqui a vinte ou quarenta anos.

O amor achado é aquele que simplesmente chega.
Abre as portas e entra, sem nenhuma sutileza, senta no sofá, coloca os pés na mesinha de centro e bagunça tudo.
É aquele olhar que te prende, e você tenta olhar para baixo, mas não consegue.
Tenta controlar seus pensamentos, mas todos eles estão correndo desordenadamente, com seus ternos e gravatas, surtando, jogando todos os papéis para o alto e ignorando todos os procedimentos de segurança.
E você percebe que tem que controlar a sua respiração, pois o seu sistema está em curto e já não consegue fazer isso de forma involuntária.

Dizem que isso é paixão.
É parecido sim, à primeira vista.
Porém, o amor achado se diferencia e muito da paixão, porque não passa. Nunca.
Ele se adapta e se transforma.

Você pode se afastar.
Mas não vai passar.
Anos podem te distanciar...
E o amor vai continuar.

Você vai esquecer a chave do carro, a carteira, e aquele compromisso tão importante...
Mas ainda vai lembrar daquele sorriso que parou o mundo ao redor, do reflexo daquele olhar, do gosto do sanduíche daquela tarde alaranjada, daquela história que fez você rir, daquela chegada... e daquela partida.
Se você tem um amor achado, ele detém os seus melhores momentos. E será o seu último pensamento.




quinta-feira, dezembro 13, 2012

A Caixa


(Algumas palavras sobre os sonhos que temos, sufocados em nossos armários, fingindo que não estão mais ali)

Sinto as correntes imateriais que me prendem
Surgem cada vez mais correntes a medida que o tempo passa
Elas pesam... e dói quando eu olho o céu.
Queria romper o céu, sem as minhas amarras... e ir

Livre... ir

O diamante está guardado onde só eu posso achar
E como um vício pela dor, eu olho dentro da caixa mais uma vez.
Só mais uma vez...
A dor é a minha força criativa. Me enche de vida e a vida dói
Mas preenche os espaços em aberto

Fecho a caixa e rio vitoriosa sobre o controle que acho que tenho
Coloco os pés a um suspiro do abismo e olho para baixo...
Um auto teste masoquista para provar para mim
Que tenho tudo sob controle, mesmo sabendo estar por um fio de me deixar escapar.

Paro quase no último centímetro de pedra sob meus pés.
Guardo a caixa.
Mais algumas horas, talvez dias de devaneio
Olhando o céu, imaginando como seria passar por entre as grades
Romper o espaço entre o que eu devo e o que eu quero

Livre... ir


quarta-feira, maio 02, 2012


Poema em linha reta
Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)


"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."


 Um dos meus poemas preferidos. Pessoa; um gênio na tradução dos sentimentos.

sábado, abril 21, 2012

Atualizando...

Tenho que me manter atualizada
Hoje eu acessei o G1
Hoje eu li as principais notícias
Hoje eu comprei um novo celular
E mandei vários e-mails
e fiz compras virtuais
e 'cutuquei' uma conhecida de quem nem me lembrava mais

Fiquei desatualizada da família...
Minha irmã estava deprimida e eu não percebi
Meu filho engatinhou e eu não vi
Minha esposa escreveu um bilhete e eu não li.
Minha mãe chorou de saudades, eu não atendi.
Mas eles entendem... Eles esperam...

O celular que serve para me atualizar das notícias
Se esquece de ligar para o meu pai.
O tempo vai passando e eu vou me atualizando
Pois a amiga da creche que eu não lembrava mais me adicionou
Mas é tanta coisa na cabeça, que eu esqueci o aniversário do vovô.
Mas ele entende... Ele espera...

Você entende... é que eu preciso me atualizar;
- da última piada
- do último novo golpe
- do último escândalo da tv
- do último político que roubou
- da cotação do dólar que baixou
- das fotos que a amiga da namorada da irmã postou
- do dinheiro que era para entrar e não entrou

Eu preciso me concentrar;
- no trabalho que tenho para entregar
- no chefe que foi esquiar
- na conta que eu vou depositar
- nas metas que eu vou conquistar...

... e quando eu me atualizar...
... e quando o dinheiro, eu conquistar...
... bem, quando eu me atualizar...

Quem sabe terá alguém...
- daqueles tantos que eu esqueci
- daqueles relacionamentos em que eu me omiti
- daqueles momentos em que eu não vivi
- do próximo que é o mais próximo, que mora comigo e eu não vi...

Quem sabe restará alguém...
Para comemorar...
Para comemorar...
O quê mesmo?
Para quê mesmo eu queria o mundo?

Eu não me lembro mais.
Mas com certeza, vai ter alguém...
(Com a frieza e a superficialidade de uma rede social)
Que vai me querer bem.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Encanto

Ele me ama. E traz flores uma vez por semana
Me chama de nomes doces, me olha como dama
E me traz flores toda semana.

Me deseja como se eu fosse perfeita
me beija como se eu fosse a unica
E vem com um bom vinho de vez em quando
Ou um convite para um jantar romantico

Ele ri das minhas historias...
E adora me ouvir enquanto falo
Não só porque gosta do tom da minha voz
Mas porque tudo que vem de mim é raro.

Ele tem cheiro de sabonete,
Tem rosto de homem sereno
Suas roupas tão bem cuidadas
Sua fala tão gostosa

Sempre gentil e carinhosa
Sempre madura e e risonha
Amiga ou Amante
De volume sempre constante

Ele mexe nos meus cabelos
E elogia os meus feitos
E me exibe com orgulho
Para todos que o conhecem

Ele ajeita as almofadas
E me abre todas as portas
De uma forma delicada
De quem cuida da coisa mais preciosa

E eu me sinto tão bem
Com todo aquele carinho
E nada mais importa
Nenhum sentimento é mesquinho

Mas isso tudo é muito
Não poderia ser verdade
Entao eu paro de sonhar
E resolvo voltar á realidade.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Á Noite

Não vou mais falar
Você não gosta de ouvir
Se os pensamentos em cascata incomodam
Vou guardá-los inundando só a mim

Só não sei como pode ser bom
Olhar o outro só de cima
Viver só a pele e não o clima
Deixar para nunca o sermão

Omitir numa caixa de pandora
Todas as neuras e as feridas
Que poderiam ser curadas cada uma a sua hora
Mas que juntas confinadas ficarão esquecidas
Até que a dor aguda venha e sufoque
Até o amor nao mais ter vida.

Diz que são minhas todas as regras
Mas a única que havia voce quebrou
Talvez soubesse... ou não sabia
De qualquer forma ignorou

"Não passe a noite sem o perdão"

Talvez não soubesse o porque...
É que a desavença é diurna
e se visita-nos num furacão,
O perdão estará de sentinela
Para curar qualquer desprazer

Mas à noite, quando todos dormem
é que chega a indiferença
A maior vilã de todas;
É quem consolida as desavenças

E quando eu não mais te indagar
É porque em mim ela se dispersou
Quando muda eu estiver
É quando mais distante de ti eu estou

segunda-feira, junho 15, 2009

Superficial

Eu não tomo partidos
Eu não compro brigas
Eu não me ponho na tua pele
Só me ponho no meu lugar

Eu te chamo para o cinema
Eu te ligo para sair
Eu lembro de ti quando tudo está bem
Eu não sinto a tua dor

Não exarcebo o seu amor
Porque só quero tuas primaveras
Que não me cobrem os teus outonos

Se quero tuas graças te chamo
Se queres meu luto te afasto
E o meu partido é partindo de todos
Partir você se preciso for

Não me importa se te conheço a 100 quilos de sal
Ou se te conheço a duas canecas de chopp
O que me pedes é desconsiderado e considerado
Na mesma dimensão, com o mesmo bom ou mal grado

Por isso não esperes de mim
Que me confraternise com tuas dores;
Teus rancores
Teus amores
Porque o meu partido é a superfície das relações
O meu legado é o Superficial


(de uma pessoa profunda demais; partidária demais; leal demais; trouxa demais)